Nuno Garoupa

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quinta-feira, abril 27, 2006

O meu terceiro artigo na revista Atlântico (Mar 06)

HOLA MADRID
As eleições que tardam.

Este mês foi significativamente marcado pela convenção nacional do PP, um desses acontecimentos tipo estados-gerais ou novas-fronteiras que não serve para o que diz que serve (preparação de um conjunto de políticas públicas) mas verdadeiramente pretende preparar as tropas para a batalha eleitoral que se avizinha (e para que os candidatos a ministro e a outros lugares na administração do Estado apareçam sorridentes e distribuindo beijos aos militantes que vão ter que fazer o trabalho duro). O problema do PP é que não se avizinha nenhuma eleição geral.

Desde que perdeu as eleições em Março de 2004 essencialmente pela má gestão que fez dos três dias posteriores ao ataque terrorista, mas também pela completa ausência de senso político no último biénio aznarista, o PP está convencido que o governo de Zapatero durará pouco. Por um lado, porque a coligação “todos-contra-o-PP” de sete ou oito partidos (alguns absolutamente irrelevantes) seria incapaz de oferecer um governo estável. Depois, porque as questões internas no governo tripartido da Catalunha (socialistas, eco-comunistas, e republicanos nacionalistas da ERC) acabaria por arrastar o governo Zapatero para um abismo (o PSOE é um partido federal muito diferente do PS português, em cada comunidade autónoma existe um partido socialista com uma identidade distinta do PSOE que Zapatero não controla, o PSC na Catalunha, o PSE no País Basco, o PSG na Galiza, o PSA na Andaluzia, etc.).

É bastante provável que o próprio Zapatero desde que foi investido Presidente do Governo em Abril de 2004 pensasses em convocar eleições gerais antecipadas logo que a maioria absoluta estivesse à vista. O curioso de toda esta situação é que ao optar por uma estratégia de estar pronto para eleições a qualquer momento, o PP contribui a adiar essas mesmas eleições. A oposição agressiva e agreste do PP manteve coesos os 10 milhões de votos que teve nas últimas eleições e impedem a maioria absoluta do PSOE. Por outro lado a boa situação económica e orçamental em que se encontra Espanha não ajuda o Governo porque precisamente a tónica de curto prazo foi na reforma territorial, na política anti-terrorista, e nas reformas sociais (divórcio rápida, matrimónios gay, a nova lei da igualdade aprovada nos primeiros dias de Março, a já anunciada nova lei da identidade sexual, a reforma do ensino consertado).

O PP quer eleições já porque não consegue manter o ritmo de oposição agressiva, de manifestações de rua, de confronto permanente outros dois anos (a actual legislatura deverá terminar em Março de 2008 se o Presidente do Governo até lá não solicitar ao Rei a convocação de novas eleições gerais). O PSOE vive uma situação ambivalente. Não pode ser outros dois anos oposição da oposição e justificar a sua actuação governamental com base nas reformas sociais e nos estatutos de autonomia, existem problemas graves que têm de ser resolvidos (reforma da administração pública, o problema de la vivienda, o desemprego, o atraso estrutural em inovação e desenvolvimento), o clima económico pode deixar de ser tão favorável ao Governo. Mas, por outro lado, é muito possível que o resultado de eleições antecipadas seja um Congresso de Deputados muito semelhante ao actual.

Infelizmente parece-me que a complicada situação criada com o debate do Estatut e a sua previsível factura eleitoral levou Zapatero a colocar o terrorismo basco no centro da decisão política espanhola. Uma solução política para o problema basco (uma trégua indefinida da ETA ou ainda melhor o abandono das armas e da violência como contrapartida a algumas concessões que possam ser justificadas à opinião pública) seria o que Zapatero precisava para ir a eleições e pedir a maioria absoluta (o Presidente do Governo que resolveu o problema basco e deu paz aos espanhóis). Este era o cenário no final de 2005. A factura eleitoral do Estatut começava a ser evidente nas sondagens, o PP o seu principal beneficiado, pelo que o grupo PRISA começou rapidamente a trabalhar a ideia de Zapatero-o homem que vai resolver o problema basco, insinuações na inarrável Cadena Ser, rumores no El Pais. Até a imprensa portuguesa começou a publicar que afinal a malta da ETA até não maus rapazes, querem a paz e deixar as armas, só esperam umas pequeníssimas concessões do Governo, as vítimas são muito respeitáveis mas não podem entravar o processo de paz.

A ETA não brinca em serviço (muitos jornalistas pelos vistos sim). Rapidamente destrui as ilusões de Zapatero. Paz sim, mas com concessões políticas sérias. Revelações de reuniões com o Governo foram repetidamente propaladas deixando Zapatero sem margem de manobra. Tudo indica que os dois anos de governo socialista foram um equívoco em política anti-terrorista. Não resolveram o problema no País Basco. Não convenceram os espanhóis e os bascos da bondade de fazer concessões aos terroristas (infelizmente alguns jornalistas portugueses falam de ETA, organização separatista, em vez de ETA, uma organização de assassinos e terroristas).

Mas surpreendentemente as boas notícias para Zapatero vieram da Catalunha. Num verdadeiro golpe de magia, digno dos melhores génios políticos, Zapatero conseguiu substituir a ERC (seu actual parceiro no governo tripartido da Catalunha) pela CiU (maior partido da oposição na Catalunha que governou durante mais de vinte anos; centro-direita nacionalista) na recta final do Estatut. É um verdadeiro seguro de vida para Zapatero. Na Catalunha muito provavelmente levará a eleições antecipadas no Outono deste ano (oficialmente previstas para Outubro de 2007) que o PSC/PSOE ganhará e poderá formar um governo mais estável com a CiU (que passados três anos na oposição estará mais disponível para uma grande coligação). Em Espanha, Zapatero poderá governar enquanto quiser com o apoio parlamentar da CiU (juntos têm maioria absoluta). Poderá também optar por eleições sabendo que roubou ao PP o único parceiro possível. E se a maioria absoluta do PSOE é pouco factível, uma maioria absoluto do PP parece muito longe da realidade. E sem maioria absoluta, não há governo PP.

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