Reformas à Portuguesa (J. Neg. 4 Mar. 2010)

Reformas à Portuguesa

Para mudar alguma coisa é preciso ter coragem política. Uma reforma profunda do Ministério Público vai incomodar muita gente, dos interesses instalados aos sindicatos, dos grupos económicos à elite do regime. Seria preciso disponibilizar os recursos financeiros e humanos que possibilitem uma real independência do Ministério Público, e não o faz-de-conta em que vivemos desde os anos setenta. Seria preciso desenvolver mecanismos de prestação de contas, incluíndo avaliações exigentes com repercussão nas carreiras e nos vencimentos dos procuradores. Seria preciso reconfigurar completamente o cargo de procurador-geral da República. Mas mais importante que todas essas reformas seria preciso mudar a mentalidade da nossa classe política que realmente não acredita na separação de poderes e olha para os tribunais como um órgão de soberania de segunda. Enquanto assim for, não pode haver reformas sérias nem procurador-geral da República que consiga resistir ao vendaval político.